terça-feira, 17 de outubro de 2017
Plantões de hora em hora nos telejornais? Destaque por dias e dias nos principais portais de notícias do mundo? Mensagens de apoio nos Trending Topics do Twitter? Se for um ataque em Las Vegas ou na França, sim. Mas na Somália, lá na África, não. É a mídia e o seu poder de determinar por quem você deve ou não se comover. Dois dias após o que já considerado o maior atentado terrorista desde o 11 de setembro norte-americano foram suficientes para que as notícias sobre a Somália fossem escanteadas dos principais jornais do Brasil e do mundo. Nesta segunda-feira (16), autoridades locais informaram que já passa de 300 o número de pessoas mortas após o ataque duplo à bomba ocorrido no último sábado (14) no país africano. Apesar da gravidade do episódio, a mídia tradicional preferiu dar mais destaque hoje a assuntos relacionados à política, aos incêndios na Europa ou mesmo à “eventos cósmicos”. Para os maiores jornais do Brasil e do mundo, o fato de morrerem 300 pessoas de forma brutal em um país africano historicamente castigado pela miséria e pelos conflitos de milícias locais não é assim tão importante. As vítimas e a localização geográfica deste tipo de tragédia, no entanto, é um fator determinante para a comoção ou a falta dela nas pessoas, de acordo com o que pauta essa mesma mídia. Para se ter uma ideia, o último atentado antes ao do país africano, o de Las Vegas (EUA), em que 58 pessoas morreram e outras centenas ficaram feridas, causou uma comoção instantânea baseada na cobertura em tempo real dos principais jornais do mundo. A diferença de tratamento com relação às vítimas e aos lugares onde este tipo de assassinato em massa acontece começa pela escolha do termo. Em Las Vegas, não é “atentado”, é “ataque”. O assassino, por sua vez, não é “terrorista”, é “atirador”. Na Globo, teve até o famoso “plantão”. O assunto permaneceu como capa de jornal por dias e dias e a tag #PrayForLasVegas dominou as redes sociais – ela segue, inclusive, como sendo uma das mais utilizadas do Twitter, 15 dias após o fatídico episódio.
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